(Laerte)
1. Começa com umas linhas sobre etimologia, o autor chega à conclusão de que, sobre LGBTs, o “projeto biológico não deixa dúvida”: “(...) Norma e normalidade se impõem de cara, e o amor entre pessoas do mesmo sexo não é menos estranho que fazer as necessidades pela boca para comer por onde você pensa.”
Deixando de lado a infeliz comparação, que seria essa
verdade incontestável e óbvia inscrita na natureza do “projeto biológico” a
definir o que é correto (dentro da norma – moral?) e normal e o que não é?
Se a “natureza” serve aqui de parâmetro: (a) o autor comete
a falácia naturalista ao querer derivar um dever (apenas existir relação
hétero) de um fato (supostamente só existirem na natureza relações entre macho e
fêmea); (b) já foram estudados inúmeros casos de relações entre animais do
mesmo sexo; (c) o simples fato de estar presente na natureza não implica que
seja moralmente correto (o canibalismo, por exemplo). Para ele, contudo, não é
“preconceito”, mas “pós-conceitos baseados em juízo fundado” – juízo este
falacioso, a-científico, ou seja, pré-conceito. Ahhh, e sejam evitadas quaisquer
práticas eróticas diferentes do puro e simples encaixe do pênis na vagina (para
procriar, certamente).
Embora, façamos justiça, o autor não fale nada a respeito
(para ele, desde que LGBTs sejam e se relacionem de forma invisível está
ótimo), é interessante como esse argumento legitima inclusive a escravidão, o
machismo, o Holocausto, senão vejamos:
(a) se há uma “norma e normalidade (que) se impõem de cara”,
os gregos poderiam escravizar porque, para Aristóteles, a escravidão é algo
natural: existem aqueles que nasceram – naturalmente, é claro - para comandar
e aqueles que nasceram – naturalmente, ainda aqui - para serem comandados (e
não mudou muito a justificação para escravizar negros, índios), afinal se são
subjugados numa guerra ou têm menor desenvolvimento tecnológico, são
naturalmente inferiores;
(b) Platão considerava as mulheres e os escravos como seres
destituídos de razão. É de Aristóteles a frase: “A natureza só faz mulheres
quando não pode fazer homens. A mulher é, portanto, um homem inferior”;
(c) para o nazismo, judeus, ciganos, doentes mentais ou
aqueles que padeciam de enfermidade, os estranhos, os associais eram
inferiores, naturalmente incapacitados para fazer parte da “comunidade do
povo”, eram, enfim, “vida indigna de ser vivida”; a Solução final nada mais foi
que eliminar esses “inconvenientes”.
2. Acusa o movimento LGBT de apenas tolerar quem lhe é
simpatizante e aquele que “não gosta” é taxado de homofóbico, uma “maneira de
calar o pluralismo quando se torna incômodo. A turma, na realidade, é
homófobo-fóbica”.
Quando não negam a homofobia, esses cruzadistas
anti-direitos LGBTs ignoram que homofobia é, resumidamente, preconceito contra
LGBTs, equivalente ao racismo, ao machismo/misoginia, à xenofobia, e inclui
desde pensamentos, palavras a violência física. Ultimamente, há um movimento,
encabeçado por Malafaia, para que homofobia signifique apenas violência física,
mas alguém fala que só é machismo/misoginia quando o homem assassina a
companheira?
3. Como provas da suposta investida para instaurar uma
ditadura gay ele elenca, com destaque em negrito: “o que lhe espera é um Estado
policial com leis de exceção, censura, repressão, proteção especial para
travesti e lésbica e, se brincar, guarda-costas por sua conta nas noites de
paquera. É impressionante!!?? Uma negação total do igualitarismo democrático,
com casta privilegiada cheia de vontades, de não me toques e de direitos...”
Bem, que projetos de “censura, repressão”? Acho que o PLC
122, mas já temos refutação fundamentada (aqui e aqui). Ou: que projetos são
esses de “proteção especial para travesti e lésbica”? Apenas citar, sem as
referências fica complicado.
4. “Ele pode lhe xingar de homófobo, mas você vai para a
cadeia se chamá-lo de v... E vejo o dia em que terá de aceitar uma cantada gay
para não ir preso por discriminação sexual ou delito dessa natureza.”
Argumentando em cima do absurdo. Viado é xingamento, em
regra; homófobo, não. Se a pessoa se sentir ofendida com o título de
“homofóbico”, que ajuíze ação por danos morais.
(Laerte)
Mais uma vez, os cruzadistas anti-direitos LGBTs, não
importa o grau de instrução, ignoram fatos, ciência, elementos básicos para um
debate saudável. Melhor para nós que o nível desse discurso não passe de
sumidade e falácias.
Mas as tirinhas do Laerte estão ótimas... alías ele se vestiu de mulher por brincadeira e gostou tanto que não tirou mais....
ResponderExcluirSou fã desde criancinha